quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A criatura do fundo do mar


Essa fotografia bizarra tem circulado por anos e anos nos sites de criptozoologia, mistérios e seres estranhos. Até hoje não há uma boa explicação para esse treco. Muita gente pensa que pode ser um girino “photoshopado”, mas acontece que essa imagem é de bem antes do Photoshop existir. Essa coisa, que mais parece uma criatura enorme no fundo de uma baia rasa, é dos anos 60, e faz parte de um conjunto de três imagens. O caso que acompanha esta foto, que me dá calafrios desde que eu era um menino, lembro que a primeira vez que dei de cara com ela foi quando eu estava numa biblioteca fuçando nas antigas revistas PLANETA. A Planeta era uma revista que sempre vinha com bizarrices gumps, bruxas, relatos de demônios, fantasmas, espíritos, discos voadores…
Tudo começou em 1964, quando Robert Le Serrec e sua família compraram um barco e decidiram passar nele no feriado em Hook Island em Stonehaven Bay, Queensland, Austrália.
Era o dia 12 de dezembro, quando a familia colocou seu barco novo na água e saíram num passeio de barco através da baía. Eles estavam todos atravessando Stonehaven Bay em 12 de dezembro 1964, quando num determinado momento do passeio, a esposa de Robert Le Serrec apontou para algo estranho no fundo da baía. Os Le Serrec começaram a tirar fotos do que parecia uma grande criatura serpentiforme descansando no fundo do mar.


Eles estimaram que ela tivesse entre nove e dez metros de comprimento. O barco dos Le Serrec  se aproximou calmamente do ser, e acredite se quiser, O cara DECIDIU ENTRAR NA ÁGUA para dar “uma olhada” mais de perto nessa “coisa”. Ele mergulhou e olhou o bicho debaixo dágua. Ali ele percebeu que era mesmo um ser vivo, e que aquilo, fosse o que fosse aquele estranho ser, era muito maior do que a primeira estimativa deles, feita na segurança da embarcação.
Le Serrec notou que a coisa escura não se moveu quando ele entrou na água, e parecia completamente imóvel diante de sua aproximação, de modo que sua primeira sensação era de que se tratava de um bicho morto. Esperando que fosse mesmo um animal morto,  Le Serrec continuou a se aproximar mais e mais até que  o  “monstro” abriu a boca gigantesca que ele tinha e… Começou a se mover!
Robert Le Serrec! Assustado, ele rapidamente nadou para o barco, enquanto ouvia gritos desesperados dos parentes. Até o momento em que ele, agora aliviado subiu à bordo, a misteriosa criatura tinha desaparecido completamente.
As imagens foram inicialmente publicadas na revista “Todos da Austrália” e depois foram amplamente distribuídas.
Outras fotos mostram que parecem ser os olhos localizados na parte superior da cabeça, e o que poderia, possivelmente, ser uma ferida no lado direito da sua cauda. A criatura foi descrito como de cor completamente preta, com algumas faixas marrons e tendo uma pele lisa sem escamas.
Os Le Serrec não viram dentes dentro de sua boca. Até hoje, nenhuma explicação racional para este intrigante caso foi encontrado. Seja lá o que quer que foi fotografado naquele dia.

Um monstro marinho?

Eu não posso dizer que se trata de um monstro marinho, muito embora, anos e anos depois, sempre que eu nadava no mar essa foto me vinha à mente como uma brutal auto-sabotagem. As informações que temos sobre a morfologia dessa coisa, vem dos relatos de Robert, que mergulhou para vê-lo de perto.  Segundo ele conta, havia uma grande ferida pálida visível no lado direito da cauda, e foi sugerido que esta ferida (talvez causada pela hélice de um navio) tinha causado o dano ao animal, e por isso ele buscou refúgio na baía rasa. Os olhos, localizados na parte superior da cabeça e bem longe da frente do focinho, estavam pálidos e possuíam pupilas em forma de fenda. Ele não possuía barbatanas nem espinhas de qualquer tipo. O caso foi bastante estudado ao longo de todos esses anos, principalmente por Heuvelmans (1968).  Shuker (1991) e Newton (2005) forneceriam mais informações depois.
Ao saber do caso, Heuvelmans (1968) relatou que ele tinha feito algumas pesquisas sobre os Le Serrec e descobriu que Robert havia deixado credores não pagos na França e isso não parecia muito confiável com relação à sua idoneidade.
Coleman & Huyghe (2003) afirmam que ele era procurado pela Interpol, o que cagou mais ainda a moral do cara. Depois, Ivan Sanderson tinha sido contatado sobre a história em fevereiro de 1965 (Le Serrec tinha inicialmente se aproximado da mídia norte-americana, a fim de obter o melhor preço para as suas bizarras imagens) e concluiu que o objeto poderia ser apenas um saco de plástico utilizado pela Marinha dos Estados Unidos “para experimentos em reboque de combustíveis” , ou mesmo um balão skyhook deflacionado que se tornou coberto de algas, ou ainda, um rolo de tecido que havia sido amarrados juntos em alguns lugares (Heuvelmans 1968).
Sanderson mais tarde, sugeriu que, admitindo a hipótese de que aquilo pudesse mesmo se tratar de um ser vivo moriundo,  a criatura poderia se tratar de um synbranchid gigante, ou uma enguia pântano*.
Os sinbranquídeos são peixes acantomórficos com longos corpos, que habitam, em sua maioria, corpos de água doce ou de estuários, e são bem conhecidos por sua capacidade de respirar ar e realizar excursões terrestres. No entanto, eles são pequenos (geralmente têm menos de 60 cm de comprimento) e são, criaturas em forma de enguia.  Pressionado para propor uma “identidade animal real” para a criatura, Heuvelmans observou em um artigo de revista que aquilo poderia ser “uma espécie de gigantesca seláquio ‘, o que seria impressionante se essa hipótese estivesse correta. No entanto, Heuvelmans (1968) realmente favoreceu a ideia de que a hipótese mais provável é que se tratasse de um agrupado de sacos de plástico pesados recheados com areia. Ele observou que a posição dos olhos era altamente suspeito, uma vez que a maioria dos vertebrados têm seus os olhos nas laterais da cabeça, ou mais perto do focinho. 
Apesar dessa argumentação, há vertebrados que têm os olhos posicionados de modo semelhante às do monstro, como o temnospondyls mastodonsauroid, cujo crânio está aqui:


Embora a maioria das publicações dê preferência à composição da criatura perto do barco mostrada no inicio do post, as que mais contribuíram para o estudo do que quer que seja este troço são essas aqui:


Seja como for, o caso é tido por muitos como um clássico da fraude .
A certeza de muitos de que tudo não passou de uma farsa vem do fato de que, em 1959, o Robert Le Serrec tentou obter dindim para montar m grupo e realizar uma expedição que iria provar de modo “financeiramente proveitoso”, e que ele tinha “uma outra coisa planejada que iria trazer um monte de dinheiro … e era a exibição da serpente marinha”. Infelizmente, o filme supostamente tomado da criatura não revelou nada.
Mas apesar de tudo, uma coisa chama a atenção neste caso:
Enquanto a maioria esmagadora das pessoas pensa de serpentes do mar, eles geralmente imaginam imensas criaturas, como cobras gigantes primitivas. Tipo:


Assim, ninguém parte para um girino gigante, mas é justo aí que a coisa ganha uma dimensão mais estudável.  É possível que Le Serrec tivesse se inspirado no “barriga amarela ‘, um criptídeo marinho descrito como a forma de um girino gigantão, com algo entre 18 e 30 metros de comprimento, marcado com faixas transversais pretas em seus lados e que supostamente era restrito às águas tropicais dos oceanos Índico e Pacífico. No entanto, os primeiros registros da ideia do “barriga amarela” se dão em 1965 (quando a edição francesa de , na esteira das serpentes marinhas, A grande serpente do mar, foi publicada), Le Serrec ja tinha feito suas fotos, em dezembro de 1964.  A favor da história, existem poucas possibilidades. Uma delas, é que o mar é bastante vasto e as profundezas ainda escondem muitos mistérios. Por exemplo, o Celacanto era um peixe que durante décadas se julgou extinto, até um belo dia ser descoberto todo pimpão nadando na costa da África.

Celacanto

Fora isso, algumas expedições científicas já encontraram peixes muito bizarros, como esse tipo de tubarão quase serpentiforme aqui:



Este outro que também se esfrega no chão como uma cobra:



E mutos outros peixes esquisitos:



Claro que ao longo de todo este tempo, outra forte possibilidade (tranquilizadora) era de que se tratava de um cardume de pequenos peixes.No entanto, essa hipótese é logo descartada com a observação da forma estável nas três fotografias, e sabemos que seria impossível disso ocorrer num cardume.
Outra hipótese que ganhou força no passado é que o “monstro” se tratava nada mais nada  menos que uma simples mancha de óleo, que eu também não acho muito viável, porque me pareceria muito mais possível uma fraude deliberada que uma mancha de óleo ter a forma de um bicho desses e não se distorcer nas três fotos feitas do barco, em ângulos diferentes.
Seja como for, não se sabe com certeza absoluta, até hoje se aquele foi um ser real que apareceu naquela baía ou só um truque engenhoso de um sujeito enrolado em dívidas para tintar um dindim dos trouxas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário