sábado, 12 de novembro de 2016

O Sabá dos bruxos



O Sabá (do hebraico shabbath, que significa sétimo dia) ou Aquelarre foi a prática mais sensacional e conhecida da Idade Média. Era o encontro dos bruxos com os demônios. Sabá constitui o elo entre o velho rito pagão dos bruxos e o ritual anticristão, no qual Satanás é divinizado e adorado com ritos e cerimônias cristãs pervertidas.

Terá existido realmente o Sabá?

A realidade do Sabá enquanto reunião ritual é indiscutível. Que tenha sido realizado na França, na Alemanha, na Itália, na noite de São Martinho ou de Santa Valpúrgia, que o Bode Negro (Bode de Mendes) tenha o nome de Mestre Leonard ou Belzebu, o Sabá foi celebrado durante toda a Idade Média.

Contudo, o Sabá ficou sendo conhecido como tal somente a partir de 1510, quando Bernard de Como e Bartolommeo Spina o denunciaram explicitamente entre os crimes contra a Igreja.


O Sabá, no princípio, era uma reunião de subversivos, cujas teses e ideologias conflitavam com as da Igreja. Era uma revolta dos servos, dos camponeses contra o Deus do padre e do senhor.

Era celebrado, geralmente, no campo perto de algum bosque ou de um lago. Raras vezes durante o dia. O pequeno Sabá desenrolava-se duas vezes por semana e o grande Sabá quatro vezes por ano, nas mudanças de estações.

Chefe dos Bruxos dirigia a cerimônia. Antes do festim orgíaco, realizava-se uma complexa série de ritos mágicos, que se completavam com a renúncia pública ao batismo cristão e com o juramento de obediência a Satanás, pisando a cruz de Cristo, como ato simbólico de repulsa.

O Sabá continuava a tradição orgiástica da antiguidade pagã. Contudo, enquanto os ritos sexuais da Antiguidade estavam destinados a representar a fertilidade da natureza e não tinham um fim em si mesmos, as orgias medievais constituíram, na realidade, válvulas de escape para a satisfação de desejos carnais frustrados ou reprimidos por exagerados e severíssimos conceitos religiosos da época, parte do aparato repressivo que congregava o Estado Monárquico e a Igreja.

Aliás, a liberdade de expressão sempre esteve vinculada à liberdade sexual. Onde se reprime a liberdade de expressão também se reprime a liberdade sexual.


Nos Sabás, os participantes podiam dar vazão aos seus instintos. Por outro lado, eles eram respeitados e temidos por seus vizinhos, o que, na opressão e monotonia medievais, lhes dava dignidade e sensação de serem livres.

Ninguém naquela época podia imaginar que uma personalidade psicopática, frustrada, fosse arriscar-se a ser morta em um momento de fama. Era comum, nas comarcas medievais, a existência de velhas mulheres melancólicas, que viviam solitariamente afastadas do resto da comunidade, em miseráveis choupanas, no mais profundo dos bosques.

Quando se espalhou a crença no culto demoníaco, qualquer tragédia, que assolasse a aldeia, era imediatamente atribuída a essas pessoas, no geral antipáticas e anti-sociais.

Por sua vez, as velhas senhoras, convertidas em adoradoras do diabo, achavam interessante reconhecer suas relações sexuais com Satanás, o que lhes permitia realizar, em fantasia, seus desejos reprimidos. Além disso, esse relacionamento satânico as fazia, transitoriamente, temidas pelo povo e até mesmo invejadas por muitos.

Acrescentem-se a ignorância dos fenômenos histéricos, as sugestões, as alucinações e, principalmente, fatos estranhos e inexplicáveis, assustadores e fantásticos, que só encontraram explicação em nosso século com a Parapsicologia, ensaiada pela Metapsíquica do século passado.

A Telepatia (emissão do pensamento através de ondas não identificadas; desconhece-se o emissor e o receptor biológico e sua localização na mente; sabe-se ter relação com as ondas cerebrais emitidas: ondas altas, quando em vigília, e ondas betas, quando em transição da vigília para o sono) e a Telergia (energia física exteriorizada do corpo humano por mecanismos e origem ainda não determinados e de um controle pessoal para execução do fenômeno parcialmente involuntário. Foi medida em laboratórios científicos, e pode produzir ruídos, luzes, combustão; quando condensada forma o ectoplasma, podendo moldar figuras simples e tênues) ainda não eram conhecidas.

Muitos indivíduos eram doentes, com a conduta alterada, outros simples alucinados, que imaginavam cenas fantásticas produzidas por drogas químicas, que conhecemos hoje os efeitos. Para irem aos Sabás, esses indivíduos lambuzavam-se ou ingeriam uma mistura composta de beladona, meimendro, estramônio, mandrágora, nepenta, acóbito, cicuta, ópio e cantáridas, o que lhes favorecia as proezas eróticas.


A pomada “satânica” era introduzida no corpo por meio de violentas fricções sobre a pele, através da qual as substâncias narcóticas se misturavam com a corrente sangüínea, e assim produziam fantasias eróticas e lhes dava a sensação semelhante à do vôo no espaço.

Sabe-se hoje que o pão de centeio era consumido em grande quantidade na Idade Média. Um parasita deste cereal, o esporão, possui um alcalóide, que em determinadas doses é mortal e em quantidades menores provoca alucinações: a ergotina, que cria, ao longo do tempo, nos indivíduos um dom de segunda visão, assim como uma mediunidade que explica a freqüência de fenômenos paranormais naquele período histórico.

A planta mais usada nos Sabás era a mandrágora. Esta planta possui uma substância venenosa, a escopolamina, que ministrada em doses muito pequenas produz um efeito paralisante do sistema nervoso central e gera alucinações do tipo mágico.

Tudo isso criava o clima mágico-erótico para o Sabá.

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