A principal marca do povo filipino é o sorriso. Mas não
pense que é por falta de problemas. Com quase um terço da população vivendo
abaixo da linha da pobreza, as Filipinas enfrentam desafios típicos de países
em desenvolvimento, como corrupção, miséria, violência, trânsito caótico,
desemprego e habitação – este último bastante perceptível aos olhos de quem
visita o arquipélago asiático. Além de inúmeros casebres e moradores de rua,
famílias inteiras vivem sobre os túmulos do Cemitério Sul de Manila, em Makati,
região metropolitana da capital.
Logo na entrada principal do lugar há uma praça com os
populares triciclos à espera de passageiros, meia quadra de basquete (o esporte
mais praticado no país) e pequenas lanchonetes improvisadas. Aliás, comércio é
o que não falta dentro do cemitério. Doces, salgados, sucos e cigarros estão
entre os produtos mais vendidos. Há também muitas crianças brincando entre
cruzes e sepulturas. Parece um bairro, mas falta o essencial: água potável,
energia elétrica e direitos humanos.
Há 15 anos vivendo no local, Rosalinda Embido, de 68, divide
o mórbido endereço com cerca de 50 familiares, além dos mais de 1.000 vizinhos
que moram no local. A idosa dorme em cima de um jazigo com a filha, Cherry, de
48 anos. E garante: tem muitos motivos para ser feliz.
– A vida lá fora (do cemitério) não é fácil. Aqui eu tenho
tudo que preciso. Escola para as crianças bem ao lado, tranquilidade, amigos e
a minha família. Viemos morar aqui depois da morte do meu marido, pois não
tínhamos para onde ir. Mas daquele tempo eu só sinto falta mesmo é dele. A
nossa vida era muito difícil – relembra ela ao mesmo tempo em que alisa a
aliança do primeiro e único casamento.
No decorrer da conversa dona Rosalinda vai listando também o
lado negativo de morar em um cemitério. A começar pelo preço da água usada para
beber, cozinhar e tomar banho: cinco pesos filipinos (algo em torno de R$ 0,30)
por um galão de 20 litros. O forte calor e a falta de um simples ventilador
também são citados por ela. Reclamação mesmo só em relação ao alto preço do
arroz, principal alimento do país. Mas como nem tudo é perfeito, a simpática
moradora vai tocando a vida mesmo lidando tão de perto com a morte.
– Não tenho vontade de sair daqui. Gosto de cuidar dos
túmulos, de ajudar as pessoas, fazer a minha comida, brincar com as crianças –
afirma Rosalinda.
A moradora não recebe nenhum tipo de auxílio financeiro do
governo filipino. Ela sobrevive com o dinheiro ganho por Cherry em trabalhos
esporádicos fora do cemitério, além dos 1000 pesos (aproximadamente R$ 53)
dados anualmente pela família proprietária do mausoléu onde ela vive com a
filha. A função delas é manter o lugar limpo e conservado. O mesmo acontece com
vários outros moradores do cemitério, que trabalham como coveiros, exumadores,
pedreiros etc.
Os problemas relacionados à habitação nas Filipinas tendem a
piorar. A estimativa é de que a população do país (92,3 milhões de pessoas,
segundo o último censo realizado em 2010) será de 140 milhões até 2040.
Enquanto soluções mais eficientes não surgem, o jeito é dividir espaço com os
mortos e continuar sorrindo.
VEJAM TAMBEM MAIS ESSE VIDEO PARA NOS DAR AQUELA FORÇA
O ritual que pendura os mortos em um penhasco!!! E se banham com fluido dos corpos.
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