Um dos casos mais impressionantes para os amantes da criptozoologia aconteceu na cidade de Van Meter em 1903. Por várias noites do ano de 1903, o pequeno povoado de Van Meter, localizado em Iowa, EUA, foi aterrorizado por uma grande criatura parecida com um morcego proveniente de uma mina abandonada e cuja identidade desse misterioso monstro nunca foi descoberta. Passado mais de um século do suposto acontecimento, muita discussão e debate ainda acontecem em torno do caso.
O aparecimento da criatura trouxe consigo pânico e terror. Em uma demonstração inequívoca que evoca as sábias palavras de H.P. Lovecraft "nenhum medo é mais forte do que o medo do desconhecido", os moradores em pânico trataram de preventivamente encher a criatura de chumbo, antes que ela pudesse fazer algo. Afinal de contas, nada tão grande e assustador, poderia ser pacífico, certo? Ainda mais tendo um enorme chifre na testa que segundo as estórias emitia uma luz cegante.
A estória, conforme contada, oferece um vislumbre de como era a vida no interior dos Estados Unidos no início do século XX. Mostra como a superstição ainda vigorava nas pequenas comunidades da virada do século e como uma comunidade pode ser testada até os limites do medo quando confrontada com algo estranho, perturbador e inexplicável.
Mas o que realmente aconteceu naquele inesquecível outono de 1903 e até que ponto essas estórias podem ser levadas à sério?
O "Visitante" era uma enorme criatura de aspecto monstruoso, meio-homem/meio-morcego com imensas asas negras que o impulsionavam pelo ar a uma velocidade fantástica. Ele exalava um fortíssimo odor e quando alçava vôo, suas asas coreáceas faziam um barulho aterrorizante. Mais ainda, a criatura, que no início só era vista à noite - provavelmente porque morcegos são animais de hábitos noturnos, possuía uma espécie de chifre no alto da cabeça ou na testa, que emitia uma luz cegante.
Desenho do monstro de Van Meter de acordo com à descrição das testemunha
Essa criatura, semelhante a uma lendária hárpia ou a um gárgula de catedral, foi vista repetidas vezes em um curto espaço de tempo. Ela voava por sobre a cabeça das testemunhas em um mergulho assustador que parecia visar um ataque direto. Felizmente, ninguém chegou a ser ferido pelo monstro que teria no entanto, matado algumas ovelhas, carneiros, novilhos, vacas, cães, gatos e outros animais domésticos - a lista de animais mortos era tão vasta que nem vale a pena relatar todos.
Apesar de ninguém entender exatamente o que estava vendo, o visitante era claramente aos olhos da população uma ameaça. Era questão de tempo, todos concordavam, até ele atacar uma pessoa inocente, agarrá-la em seus braços e voar para os céus carregando-a para depois matá-la e devorá-la.
Com esse temor em mente, o povo de Van Meter tratou de se armar. As pessoas andavam armadas com espingardas, rifles e revolveres. O conselho da cidade emitiu uma ordem para que as pessoas só saíssem de suas casas após a noite, portando alguma arma de fogo, e na companhia de outras pessoas devidamente preparadas para um eventual encontro com o "visitante". Apesar de ser 1903, e armas não serem mais tão comuns em Iowa quanto eram no Oeste Selvagem, o mesmo Conselho garantiu o porte de armas e munições a qualquer um que temesse pela sua segurança.
Não demorou muito até que tiros fossem disparados. O primeiro a apertar o gatilho foi um fazendeiro chamado U.G. Griffith que afirmou ter visto um enorme vulto escuro saltando entre os telhados de sua casa e de seu celeiro. O Sr, Griffith disparou quatro cartuchos de munição e afirmou que sem sobra de dúvida acertou ao menos três deles diretamente. O monstro entretanto não pareceu sentir os disparos e simplesmente voou para longe. Na noite seguinte, o médico da cidade Frederick Hasler e um caixa de banco Peter Dunn, também se depararam com o monstro. Hasler pouco antes da meia noite e Dunn de madrugada. O médico tinha à mão uma espingarda de caça e disparou um tiro contra o que ele descreveu como "um enorme morcego humano cuja espécie a ciência desconhece por inteiro". O disparo foi certeiro em suas palavas, mas o monstro apesar de alvejado conseguiu saltar do telhado e ganhar altitude.
Dunn encontrou o monstro enquanto voltava para casa por uma estrada próxima. A criatura "passou por cima de sua cabeça" e por pouco não o atingiu diretamente. Ele tinha à mão uma espingarda calibre 12 que usou para alvejar o monstro e derrubá-lo do alto de uma árvore onde ele se embrenou em busca de proteção. Uma vez atingido, o monstro caiu no chão, mas apenas desorientado, ele ainda conseguiu levantar e correr para a floresta. Sabendo que as pessoas poderiam duvidar da estória, Dunn tratou de voltar em casa e apanhou gesso para fazer um molde das pegadas da criatura - "em forma de um pé com três grandes dedos".
Um repórter do Iowa Tatler chamado Ben Jasperson conseguiu aquilo que ninguém havia sido capaz de obter: uma prova da existência do monstro! Ele ficou de guarda no alto do prédio mais alto da cidade, a prefeitura, aguardando pacientemente até a criatura surgir. No dia primeiro de outubro ele registrou com uma fotografia a aparição daquilo que ele descreveu como um monstro que circulou o prédio onde ele estava e foi pousar no alto de uma loja de material de construção. O dia estava amanhecendo e a criatura parecia tranquila e nada ameaçadora. Segundo Jasperson, o monstro era muito grande, com mais de dois metros e com asas com talvez o dobro disso em envergadura. Ele não foi capaz de ver detalhes, mas com as mãos trêmulas pressionou o obturador e conseguiu tirar a controversa fotografia que está no alto desse artigo.
O mito sobre a criatura sobreviveu ao tempo, e inclusive existe uma menção no livro do centenário do povoado
Graças à imagem, o pânico contagiou a cidade inteira e tornou o vilarejo famoso, atraindo a atenção de outros jornalistas vindos de Nova York e Chicago.
Na noite seguinte, R.G. Carter, um engenheiro com experiência militar, famoso por ser um ótimo atirador, acordou na madrugada com o som de alguma coisa mexendo no poste de telefone em frente à sua casa. Era a criatura, empoleirada no cabo. Ele preparou o rifle, mas quando enfim chegou na janela, o monstro havia desaparecido. White contou que o tiro seria fácil, já que ao redor da criatura havia um brilho que vinha de um longo chifre posicionado no topo de sua cabeça. Essa foi a primeira menção ao peculiar chifre que tornava o visitante ainda mais estranho.
O visitante deve ter se movido para o centro da cidade, já que foi avistada poucos minutos depois por Sidney Gregg, um vendedor que estava arrumando o estoque de material de sua loja. Gregg (é claro!) também estava armado com uma escopeta e teve tempo de fazer mira e disparar contra o monstro. "Ele saltou como um canguru!", explicou o vendedor que disparou mais oito vezes (!!!) tentando derrubar o monstro. Em meio ao ruído de tiro, outras pessoas foram para a rua - todas fortemente armadas, e começaram a disparar em qualquer sombra no céu noturno. Mataram vários pássaros, mas nenhum deles era grande, feio ou assustador o suficiente para ser chamado de monstro. A torre da igreja também foi alvejada e as janelas de duas casas próximas.
Na manhã seguinte, um professor e seus alunos do primeiro ano foram apavorados pelo avistamento do monstro voador que os perseguiu pelo pátio da escola dando rasantes ameaçadores. Felizmente um dos alunos (é serio!?) estava armado com uma espingarda e conseguiu escorraçar o monstro.
O pânico já havia se espalhado pela cidade e as pessoas estavam especialmente aterrorizadas depois que o monstro noturno havia sido visto em plena luz do dia. Um outro informe, feito por um fazendeiro, afirmava que o monstro teria se refugiado em uma velha mina de carvão, desativada poucos anos antes. Parecia fazer sentido, já que a mina oferecia um ambiente escuro, ideal para um morcego, ainda que ele fosse meio-homem.
Um grupo de cidadãos preocupados (e obviamente, fortemente armados!) formou um grupo de reconhecimento para vasculhar a mina. O Des Moines Daily News informou em uma reportagem em 3 de outubro de 1903 que o "aldaz grupo, formado por 18 homens, estava disposto a encarar o próprio diabo e sua horda de diabretes em batalha".
Surpreendentemente, o monstro de fato estava no interior da mina. E pior, estava acompanhado de três monstrinhos menores. Quando a criatura alçou voo tentando escapar pelo túnel que dava acesso a superfície, os "valorosos homens de Van Meter" apontaram suas armas e desancaram uma barragem de chumbo grosso que o derrubou. Os tiros foram tantos que as pessoas na cidade acharam que o mundo estava acabando - ou ao menos foi o que o repórter escreveu.
O monstro ainda tentou fugir, mas uma nova salva de tiros o atingiu diretamente. As versões menores da criatura foram abatidas por disparos igualmente concentrados e golpes de coronhadas, paus e pedras.
"No fim da caçada, não havia restado muito do monstro para ser apresentado, mas os caçadores pareciam satisfeitos por terem cumprido sua tarefa cívica."
Aqueles que participaram da caçada teriam encontrado o que parecia ser um ninho, onde estavam os restos de animais abduzidos das fazendas. Nesse covil, escondido nas profundezas de um túnel, o monstro teria se alojado. O grupo antes de sair ateou fogo a tudo para não restar dúvidas de que a ameaça tinha sido erradicada de uma vez por todas.
Lewis encontrou os jornais e artigos que mencionam esses acontecimentos e ficou impressionado com o fato de que os testemunhos vinham de homens proeminentes que juravam ter contado os fatos conforme aconteceram. "Não eram os bêbados da cidade, mas professores, médicos, comerciantes... pessoas acima de qualquer suspeita que não tinham por que inventar uma estória tão fantástica, apenas para ganhar fama."
Enquanto realizava a sua pesquisa, Lewis encontrou vários descendentes de pessoas que vivenciaram os acontecimentos, pessoas como a bibliotecária Jolena Walker, cujo avô participou do bando que teria matado o "visitante" na mina.
"Aquelas pessoas não queriam publicidade ou destaque!" disse Walker, "eles eram homens de respeito que temiam estar diante de algo inacreditável que poderia se tornar um risco para suas famílias e amigos".
Jolena relatou que seu avô falou apenas uma vez a respeito de sua experiência em 1903:
"Ele evitava falar a respeito daquilo. Dizia que não se orgulhava de ter participado da caçada, mas que era necessário abater o monstro antes que ele ferisse alguém. Talvez, o monstro fosse apenas um animal enorme, diferente de tudo que já vimos, mas meu avô sempre acreditou que aquela coisa era má. Ele não sabia explicar como ou porque, mas sabia que o "visitante" era algo perverso, talvez até diabólico". Certa vez, o pai de Jolena perguntou a respeito do acontecimento e o homem já com 70 anos, ficou contemplativo por um momento e então respondeu: "Eu sei que existe o bem e o mal. Eu acredito que existe um Deus, e portanto, eu tenho que acreditar na existência do Demônio. Eu não sei se aquilo era um demônio, mas com certeza, não era algo bom".
Lewis realizou várias pesquisas nos arquivos da gazeta local e ouviu estórias estranhas a respeito do Visitante, de fantasmas, pé-grande e até de criaturas alienígenas que teriam aparecido nos arredores de Van Meter e para sua surpresa a quantidade de acontecimentos inexplicáveis na cidade é surpreendente. Van Meter é como um para-raios de ocorrências sobrenaturais.
Enquanto escrevia a estória da cidade, o autor encontrou vários relatos de descendentes e achou curioso que a maioria daquelas pessoas evitava falar sobre o incidente.
"Talvez seja por isso que a estória estava desaparecendo. É estranho que uma estória tão notável seja tão pouco conhecida ou comentada, mas isso se deve ao fato dos envolvidos tentarem esquecer dos eventos do qual tomaram parte. Não é o comportamento típico de indivíduos que inventam uma estória em busca de reconhecimento ou fama".
Nesse aspecto, o Visitante de Van Meter oferece um panorama totalmente diferente das narrativas sobre monstros. O comportamento daqueles que tiveram envolvimento no acontecimento se assemelha ao comportamento de veteranos de guerra que se negam a falar sobre suas experiências traumáticas no fronte. Lewis recebeu várias respostas negativas de parentes que afirmaram não ser um assunto sobre o qual eles gostariam de falar a respeito.
Hoje não há nenhum sobrevivente desses acontecimentos, todos morreram há muito tempo, levando para o além os relatos inacreditáveis de um outono assustador.
Para Chad Lewis, o horror que se abateu sobre Van Meter não pode ser descartado como uma mera farsa engendrada por pessoas querendo tomar parte em algo inacreditável. Ávidas pelos holofotes e pelo desejo de fama, há algo mais nesse incidente.
"Existe uma longa tradição de avistamento de coisas inexplicáveis na América do Norte. Mesmo entre as tribos de nativos americanos, existiam lendas sobre homens que entravam na floresta ou se aventuravam além da fronteira selvagem e se deparavam com animais fantásticos e monstros aterradores. Desde Búfalos gigantes a monstros antropóides como o pé-grande e o wendigo. Se esses relatos são verdadeiros ou não, provavelmente jamais venhamos a saber, mas a quantidade deles nos diz que há algo estranho lá fora, algo que nós talvez não estamos prontos para encontrar".
Seja como for, o monstro alado de Van Meter continuará a assustar as pessoas, fazendo com que elas olhem para cima preocupadas, temendo o som de grandes asas negras.