São Paulo tem muitos locais famosos pela fama de serem
assombrados, como o Edifício Joelma, o Castelo da Rua Apa, o Teatro Municipal,
entre outros.Mas existem muitos que não são mencionados em páginas
“especializadas”, por descaso ou apenas por se ignorar a existência deles.Um
desses lugares é o Casarão Afonso Sardinha, localizado no Parque Estadual do
Jaraguá, em São Paulo, conhecido por ser uma edificação histórica, mas que
também apresenta grande atividade paranornal.
Embora pouca gente saiba disso e o fato não seja divulgado,
muitas pessoas testemunharam manifestações sobrenaturais seja no próprio
casarão ou nos seus arredores. Como fica próximo da minha casa, já há muito
tempo queria escrever sobre ele, colocando-o, merecidamente, no hall dos
lugares assombrados da capital paulista.Tudo poderia não passar de uma lenda urbana
ou de histórias sem fundamento, como tantas outras, mas quando decidi pesquisar
sobre o casarão e consegui alguns depoimentos sobre ele me dei conta de que as
histórias são assustadoramente verídicas.Mas antes de entrar nas manifestações
sobrenaturais propriamente ditas gostaria de falar um pouco sobre a história do
casarão, quem o construiu, o bandeirante Afonso Sardinha, e também sobre o
Parque Estadual do Jaraguá que o abriga, para que se possa entender um pouco
melhor o caso.
Quem foi Afonso Sardinha?
Afonso Sardinha (o velho), de origem portuguesa, foi um
bandeirante conhecido como caçador de índios e traficante, sendo um dos
primeiros a comprar escravos em Angola e trazê-los ao Brasil. Foi uma figura
muito importante e influente em sua época, recebendo o título de Capitão das
Gentes da Vila de São Paulo dos Campos de Piratininga. Sardinha descobriu
vestígios de ouro no ribeirão Itaí, que fica no Pico do Jaraguá, por volta de
1580 e com isso resolveu se estabelecer na região, fundando a Fazenda Jaraguá.
Nela ele construiu a sede, o casarão que hoje leva seu nome, e nele viveu até
1616, quando faleceu.
Para não me prolongar na biografia de Sardinha irei resumir
sua história com uma descrição interessante que foi feita sobre ele pelo
historiador Afonso de Taunay:
“Grande comerciante e capitalista, grande proprietário e
lavrador, minerava no Jaraguá, fabricava e exportava muita marmelada, a ponto
de poder fornecer, de uma remessa, cem caixotes, e negociava grandes partidas
de farinha, sal e açúcar. De Buenos Aires recebia lãs e peles remetidas pelo
correspondente Antônio Rodrigues de Barros. Oito peles vendera em São Paulo por
26 cruzados:10$000. Traficava escravos, vendendo índios moços a 3$000 por
cabeça, até para o Rio da Prata. De lá encomendava diversos gêneros, como
rendas, papel, medicamentos, facas fabricadas na Alemanha. Como capitalista,
emprestava a pessoas de São Paulo e Santos, São Vicente e Rio de Janeiro”.
No sopé do Pico do Jaraguá o casarão foi construído, por
volta de 1580, para servir de sede à Fazenda Jaraguá. Possui vinte e um cômodos
e era residência do bandeirante Afonso Sardinha, o pai, que ali viveu até seu
falecimento, em 1616 (como já foi dito).A construção também tem um cômodo
contíguo, um tipo de senzala bem pequena com altura de 1,60m e poucos metros
quadrados, com apenas uma pequena janela para ventilação. Por que uma senzala?
Como se sabe, Sardinha era inimigo dos indígenas locais e traficava escravos
para o Brasil. Obviamente ela serviu para o cárcere ou mesmo abrigo de nativos
e negros escravizados.
Um fato curiosamente bizarro em relação ao casarão é o
material com o qual foi construído: taipa de pilão. Porém, para conferir maior
resistência ao material, foram adicionados sangue e vísceras animais à massa de
folhas secas e barro, para aumentar a aglutinação e assim fortalecer o
material.Ao contrário do que se pode imaginar, a vida na fazenda estava longe
de ser tranquila.Alguns povos indígenas como os Carijós, que viviam na região,
não adentravam o território onde está o Pico do Jaraguá (chamado por eles de
“Iaraguá”) por considerá-lo sagrado, assim como não permitiam que outras
pessoas o fizessem. A invasão da área pelos portugueses despertou a fúria dos
nativos.
Durante dez anos foram travadas diversas guerras pela
região, em que os indígenas, Carijós e Guaranis, incapazes de fazerem frente ao
poderio bélico dos portugueses, foram exterminados. Interessante que isso seja
lembrado, mais adiante.Com o esgotamento do minério a região foi tomada por
enormes fazendas de café e muitos anos depois, em 1939, o governo do Estado de
São Paulo comprou 202 alqueires da região. As fazendas cafeeiras foram
desativadas e vegetação nativa foi replantada.
Em 1961 foi inaugurado, então, o Parque Estadual do Jaraguá, onde o casarão se localiza.Em 1978 o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico formalizou o tombamento de toda a área e em 1994 o Jaraguá foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, na qualidade de Reserva da Biosfera, quando o casarão, ao menos, passou a ser protegido
Durante vinte anos o casarão abrigou o albergue Magdalena
Tagliaferro Hostel, que foi desativado em 2008, servindo de moradia temporária
aos jovens de todo o mundo.Com a desativação do albergue o casarão foi então
fechado para a visitação pública, sendo cuidado por dona Iracema, que cumpria
com o papel de caseira, até 2012, quando foi obrigada a retirar-se dele.Com o
Decreto Estadual n° 57.401, de 06 de outubro de 2011, a Fundação Florestal (que
administra o parque) foi autorizada a criar parcerias para sua utilização,
incluindo o casarão.A licitação já foi feita, mas ainda se desconhece que
destino será dado a ele ou ao parque.
No Pico do Jaraguá, ponto mais alto da cidade de São Paulo,
foram instaladas duas importantes antenas de transmissão.Pouca gente sabe, mas
Pico do Jaraguá é o nome dado ao ponto maior (com 1.135 metros), onde em 1962
foi instalada a rede de transmissão da Rede Bandeirantes, e o menor (com 1,127
metros) se chama Pico do Papagaio, onde em 1969 foi construída a antena da TV
Cultura.Recentemente ocorreram alguns acidentes na região do parque que abriga
o casarão, além de numerosos incêndios na mata. Incêndios esses ocasionados por
motivos diversos, alguns deles sem explicação.
Atividades paranormais
Existem diversos relatos dizendo que tanto no casarão como
nos seus arredores há atividades sobrenaturais. Foi difícil, mas consegui obter
o testemunho de algumas pessoas que aceitaram colaborar, desde que a identidade
não fosse revelada.Quem já passou a noite na centenária edificação diz que é
possível ouvir sons como os de correntes sendo arrastadas, estrondos pelas
paredes e vultos perambulando por seus cômodos.
“Não tem explicação, mas em algumas noites as almas penadas
pareciam ficar doidas, e era impossível dormir quando isso acontecia. Eram
gritos, estrondos pra tudo que era lado, era terrível. Mas era difícil disso
acontecer, na maioria das noites era tudo tranquilo.”
“Uma vez veio uma prima minha do interior aqui pra capital
e ia ficar em casa durante um tempo. Mas ela só passou uma noite no casarão e
quis ir pra casa de uma tia dela. Ela disse que, de noite, sentia alguma coisa
mexendo nos cabelos delas e alisando as pernas dela. Nunca mais voltou aqui.
Mas comigo essas coisas nunca aconteceram não.”
“Sou bastante religiosa, sempre rezo antes de dormir e
tenho sempre um cantinho para meus santinhos. Ainda sou do tempo que se seguia
a quaresma, todas as tradições católicas. Acho que isso também me ajudava a
acalmar as almas penadas, as orações.” – confidenciou I.B., que morou no
casarão durante algum tempo.
Quem visitou o local também teve más impressões a respeito
dele.
“Uma vez teve uma visita da escola ao casarão. Tinha guia e tudo o mais, foi
bem organizado. Todos os aposentos nos foram mostrados, mas quando chegou a
hora de conhecer a senzala, foi complicado. Eu entrei nela, baixinha, abafada…
Senti uma sensação horrível, como se desse pra sentir o sofrimento de quem
esteve preso nela. Foi horrível mesmo.” – relatou C.M.P.
Os seguranças que fazem a ronda noturna pelo parque evitam
passar por perto do casarão alegando que já viram vultos circulando por suas
dependências, além de ouvirem risadas e lamentos vindos do seu interior.
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