Em 29 de abril de 1945 a respiração dos russos a poucos
metros do führerbunker, o complexo subterrâneo de salas em Berlim onde Adolf
Hitler passou as últimas semanas do regime nazista, podia ser notada. Hitler,
Eva Braun, Goebbels, Magda e seus 6 filhos passam seus últimos dias sem ver a
luz. O caos é total. O outrora homem mais poderoso do mundo vive preso por
metros de cimento, o Parkinson e surtos de loucura psicótica amarguram mais
ainda o pesadelo dos que caíram com ele. O final espreita.
A irrespirável atmosfera do último refúgio de Hitler era o
fiel reflexo dos últimos estertores do Reich. O exército que ia dominar o mundo
se rendia aos pés da porta de Brandenburgo enquanto o Führer tentava ocultar as
desculpas, seus tremores e seus crimes sob toneladas de concreto.
Dentro desse refugio cinza, frio e cheio de umidade havia
seis crianças que viviam alheios ao inferno que ardia a oito metros sobre suas
cabeças. Atividades infantis, chocolate com bolo e jogos com Hitler marcavam e
alegraram a agenda durante os oito dias do voluntário cativeiro. Dizem que Adolf era incapaz de transmitir qualquer tipo de
emoção com as milhares de personalidades com as quais tratava diariamente, com
nenhuma, exceto com as crianças e cães. Por isso ele gostava de Goebbels e seus
filhos. Todos eles alheios. Todos eles ingênuos. Todos menos uma. Helga
Goebbels, a teimosa e
rebelde como ela só.
Apesar de não compartilhar sangue, o carinho negado por seu
pai, Joseph Goebbels, era proporcionado por Adolf Hitler em uma relação
paternalista (ainda que alguns historiadores digam que era um claro sinal de
pedofilia) cheia de admiração. Ela tinha apenas 12 anos e, para ela, ele sempre
seria seu tio.
Hitler e Helga Goebbels
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Magda Goebbels, sua mãe estava sempre distante. Passava
muito pouco tempo com os filhos porque não podia fazer outra coisa do que
aparentar e fingir suas melhores expressões nos chás que ela mesma organizava
por ordem de Joseph para os generais e dinossauros do partido nazista, o que
acabou fazendo com que ela sucumbisse ao medo (chegou a ser internada, depois
de ficar com parte do rosto paralisado) e negasse os cuidados de sua estirpe em
momentos críticos.
Em sua adolescência Magda teve um noivo judeu, se casou aos
19 anos com Günther Quandt, membro de uma família multimilionária. Depois de
afiliar-se ao partido nazista, divorciou-se e casou-se em 1931 com Goebbels,
apesar de certa vez ter constatado:
- "Amo meu marido, mas meu amor por Hitler é mais forte.
Por ele estaria disposta a dar minha vida. Quando descobri que Hitler não podia
amar nenhuma mulher, senão, como ele mesmo diz, só a Alemanha, aceitei o
casamento com doutor Goebbels. Assim posso estar mais próxima do Führer."
Nos dias finais naquele cativeiro, Magda Goebbels escreveu
uma carta de despedida a Harald Quandt, seu filho do primeiro casamento,
concretamente em 28 de abril de 1945, explicando que - "...não vale a pena
viver no mundo que vem depois de Hitler. Por isso também vou levar as crianças,
porque seria dolorosa a vida que levariam depois disso tudo. Um Deus
misericordioso me compreenderá quando eu mesma lhes dê a salvação."
Por esses mesmos dias a mãe começou a prometer aos filhos
que logo tudo aquilo iria acabar e que logo poderiam sair dali para desfrutar.
Helga questionou porque então a mãe andava tão nervosa e por que estava sempre
vasculhando sua bolsa com tanta sofreguidão. Magda desconversou. Helga achou
que era uma arma e pensou no pior.
Helga Susanne, Hilde Traudel, Helmut Christian, Holde
Kathrin, Hedda Johanna e Heide Elisabeth; os seis filhos do casal Goebbels (de
12 a 4 anos), marcados desde seu nascimento com o "H" de Hitler,
morreram à noite de 1° de maio de 1945 pelo veneno fornecido por sua própria
mãe e pelo Dr. Stumpfegger.
Naquela noite, quando Magda colocou as crianças na cama, ela
lhes disse que precisavam tomar uma medicação para prevenir uma possível
infecção naquele lugar tão úmido e frio. Helga perguntou a mãe porque
simplesmente não iam embora dali. Na verdade, eles foram injetados com morfina
por um dentista do exército, Dr. Kunz. Magda pediu ainda que ele a ajudasse a
dar cianureto às crianças uma vez que estivessem dormindo, mas Kunz se recusou.
Ela então falou com um dos médicos de Hitler, Ludwig
Stumpfegger, que a ajudou a esmagar os comprimidos de cianureto, que Hitler
tinha presenteado como prova de sua honra aos Goebbels e que Magda guardava
receosa em sua bolsa.
Magda e Joseph então deixaram o búnquer e foram para o
jardim da chancelaria do Reich. Ela engoliu uma cápsula do veneno e, para ter
dupla certeza, ele atirou nela com uma pistola, antes de apontar a arma para
sua cabeça e fazer o mesmo.
Quando os primeiros russos entraram no búnquer dois dias
depois, descobriram os corpos das crianças. Eles estavam deitados em suas camas
vestindo roupas brancas, completamente limpas. Nas fotos dos cadáveres é
possível ver a expressão de paz na cara de todas as crianças. Em todas, exceto
na de Helga.
Supostamente a última foto de
Helga Susanne Goebbels.
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De acordo com a autópsia que os russos realizaram depois,
hematomas no rosto e no pescoço da menina indicavam que ela se recusou a ser
envenenada e foi forçada a engolir o cianureto. No final, a garota havia
redescoberto seu espírito de rebeldia. Helga sabia.
P.S.: Os dados refletidos neste artigo são fatos históricos
baseados em declarações de Kathe Hübner, a babá dos Goebbels, e de
historiadores.
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